Chappell Roan com certeza seria uma filósofa absurdista!
Baseado em Albert Camus, Clarice Lispector, Noites Brancas e heterosexualidade compulsória.
Eu sei que parece ser a comparação mais estranha de todas, mas veja meus argumentos antes de julgar!
Primeiramente, o que é o absurdismo?
Absurdismo é a teoria filosófica que defende a vida como absurda e sem propósito absoluto algum (repudiando perguntas do tipo “qual é o sentido do universo?”) e que teve como maior representante desta corrente, o escritor Albert Camus juntamente ao seu livro “O Estrangeiro”.
O que isso tem haver com todos os nomes no subtítulo? Vamos começar pela digníssima Clarice Lispector:
Em sua obra “A hora da estrela” a protagonista Macabéa morre rapidamente ao ser atingida por um táxi, algo que pelo menos pra mim foi completamente chocante e que ainda me deixou paranoica! Contudo, a genialidade da obra não está apenas na morte decorrida de um atropelamento, mas sim em como linhas antes a protagonista tinha uma grande expectativa para sua vida futura e em como tudo desaparecem em questão de minutos.
Momento curiosidade antes de continuarmos: A própria Clarisse é dada como uma referência no absurdismo por este livro e sua entrevista com a icônica frase “Seria muito engraçado se um táxi me atropelasse e eu morresse”.1
E não é apenas a autora que é referenciada em relação ao absurdismo. Dostoievski, embora bem longe desta filosofia, conseguiu emanar em diversos leitores um sentimento parecido ao escrever “Noites Brancas”, quando ao final do livro, o protagonista “ O sonhador” é deixado sozinho por sua amada após ela reencontrar seu real amado, deixando assim o protagonista para trás de forma super abrupta; e que inclusive, eu acho que ninguém esperava! (sério, acho que isso foi nas últimas cinco páginas!).
E agora sim, chegamos na cantora Chappell Roan:
A primeira música dela que eu escutei foi “Good Luck, Babe!”, e pra mim se ela fosse um livro, seria a premissa mais absurdista e real possível! Com tudo que eu já citei até aqui, imagine: Uma história de amor entre duas garotas que se separam e tempos depois do termino, uma delas descobre que sua ex está casada com um homem atualmente, porém ela ainda pensa em seu antigo relacionamento; e agora, imagine tudo isso no século 20!
Ok, eu mudei um pouquinho a música, mas vocês entenderam, né?
O tema de heterossexualidade compulsória retratada na música é algo considerado “comum” atualmente e que vem sendo bem discutido; porém nem sempre este termo existiu; e ainda assim histórias como essa aconteciam da mesma forma, só não eram nunca relatadas2.
A ideia do absurdismo é justamente o choque por algo normal na vida, e eu acho que a Chappell descreve esse sentimento incrivelmente em suas músicas (infelizmente a gente sabe que mulheres, principalmente as LGBTs, não tem o mesmo lugar em correntes de pensamento).
Diversas teorias filosóficas podem ser ser relacionadas por outros autores e obras, como o exemplo anterior da Clarisse. E eu acredito que a Chappell adoraria a semelhança cômica e absurda de suas músicas e relatos com essa filosofia (ela e Camus teriam várias conversas super reflexivas e dramáticas na minha cabeça).
Dostoievski, por exemplo, escreveu um romance que seguia praticamente a mesma premissa: jovens apaixonados que são deixados por alguém mais “conveniente” por assim dizer. (e embora eu já tenha escrito acima, o escritor não era adepto da filosofia absurdista não, o livro que foi considerado assim por alguns leitores!) Então porque não considerar outras obras com teor meio “choque de realidade” como absurdas também?
Se você ainda não conhece e gostaria de ver a entrevista de Clarisse, ele está aqui: https://youtu.be/DkDJ0EG0GsQ?si=rg2q8f-DdQBW5e9z
Essa aqui foi relatada! E eu deixo aqui como indicação para vocês o livro “Immodest Acts: The life of a Lesbian Num in Renaissance Italy”